Paulo Alcantara Gomes
ex-reitor da UFRJ e
ex-presidente do SEBRAE/RJ
Alguns dos problemas enfrentados pela educação brasileira estão nas dificuldades impostas por conteúdos pouco atraentes, na ausência de material didático adequado, na infraestrutura insuficiente, nos planos de carreira docente desestimuladores e nos poucos incentivos à atividade de magistério.
Entretanto, também defrontamo-nos agora com o crescimento exacerbado dos índices de violência, que vem provocando danos irreparáveis ao ambiente escolar.
A violência é influenciada por diversos fatores, entre eles o espaço no qual a escola está inserida, a má utilização da comunicação, algumas regras de disciplina incompatíveis com os tempos atuais e o nível de atraso dos estudantes.
O baixo rendimento escolar, por exemplo, leva alguns estudantes à agressão verbal, ou física, aos seus professores, e também à depredações, em muitos casos das próprias instalações escolares.
Os casos de bullying, que constituem uma forma de violência moral entre os próprios estudantes, são muito frequentes em grande parte das escolas e se avolumaram com o crescimento das redes sociais.
Segundo dados obtidos a partir dos questionários aplicados na Prova Brasil, mais da metade dos professores, diretores e funcionários das escolas públicas relatam casos de violência, alguns contra eles.
A ausência de acompanhamento pela família também favorece o aumento das situações de conflito nas escolas.
Entre os estudantes, a violência aparece com índices preocupantes, pois mais de 70% dos professores e diretores reportam ter presenciado agressão física entre alunos. A situação extrema de furtos e roubos aos professores e gestores também foi constatada em diversas escolas.
Um estudo da UNESCO mostrou que atualmente a sala de aula não garante ao estudante mais segurança do que a rua, tanto em escolas públicas como nas escolas particulares.
Hoje em dia, diretores, professores, funcionários administrativos e alunos são obrigados a conviver com fatos que passaram a fazer parte do cotidiano de alguns dos nossos maiores centros urbanos, como a posse ilegal de armas e o tráfico de drogas.
Na semana que passou, o tema foi discutido numa reunião do Fundo das Nações Unidas para a Infância (a UNICEF). Nessa reunião, foi divulgado que, no primeiro semestre letivo de 2017, na Cidade do Rio de Janeiro, somente foi possível abrir todas as escolas em apenas 8 dias letivos, de um total de 107 dias, em função dos tiroteios.
A violência corre o risco de ser legitimada, quando aceita passivamente pelos governos.
A descontinuidade nas aulas e nas demais atividades que norteiam o processo de aprendizagem diminui o rendimento escolar.
Nas últimas semanas, por exemplo, sucessivos casos de estudantes atingidos por balas perdidas ocuparam as manchetes dos jornais, demonstrando a escalada da violência, notadamente nas regiões mais pobres do Rio de Janeiro. Resultado: aulas suspensas, afastamento das escolas, abandono de cursos, professores que desistem.
Evidentemente, a educação é prioridade para o desenvolvimento. Ela, entretanto, depende da consecução de outras políticas, entre as quais a de segurança pública que, em muitos casos tem sido relegada a planos secundários.
É urgente e indispensável a recuperação econômica do Rio de Janeiro, segundo maior produto interno bruto da federação, retomando-se a continuidade e o cumprimento do calendário de pagamentos dos salários aos servidores, o reaparelhamento dos órgãos de segurança, assegurando-se igualmente a oferta da assistência social e acompanhamento dos estudantes pelas famílias.
FONTE: O Globo – Blog do Noblat
http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2017/07/violencia-nas-escolas.html
LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO NO ARTIGO “Bullying e formação de professores: contributos para um diagnóstico“:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362016000400990&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt